Fome e saciedade na saúde mental e na prática em psicoterapia

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Comer é o melhor para poder crescer?

Pense na sua comida favorita. Se você pudesse materializar essa comida na sua frente nesse momento, o quanto você conseguiria comer dela? Você já percebeu como você se sente quando está comendo? Percebe quando o seu corpo dá sinais de que está satisfeito ou quando começa a passar do limite? Ou o inverso, já percebeu ter comido algo em uma quantidade menor do que você necessitava? Normalmente a gente entra no automático e come enquanto assiste TV ou enquanto mexe no celular. Come o mais depressa possível para voltar para uma atividade ou come conversando sobre compromissos que vai ter com algum colega de trabalho. Então vamos falar um pouco sobre fome e saciedade.

Existe uma prática, principalmente entre os mais velhos, de castigar crianças que não comiam toda a comida que era colocada no prato, justificando várias questões morais ou dogmáticas, o que pode acabar levando o desenvolvimento de comer além do necessário ele não percebeu os sinais que o corpo dá. Também no meu imaginário infantil tenho a lembrança do Goku comendo (e aqui vai lembrança ao Akira Toriyama, criador de Dragon Ball, Chrono Trigger e outras obras da cultura pop que faleceu recentemente), o que era uma cena cômica em que as pessoas a sua volta ficavam desesperadas pela quantidade excessiva de comida que estava sendo consumida. Algumas pessoas mais emocionadas poderiam relacionar-se a “quem come mais, mais forte será”.

Pode parecer que os problemas relacionados à alimentação são culpa dos pais, o que não é verdade.

Convido você a refletir e observar os cinco pontos para perceber a quantidade de comida que você está comendo, além de no final passar um exercício de como melhorar a apreciação do que você está consumindo.

Diferença entre saciedade e comer demais

Vamos começar imaginando aquela comida que você imaginou se materializando na sua frente foi consumida por você e por gostar muito, comeu em excesso.

Vou começar do maior nível de saciedade até o menor:

  • Estufado: o ponto mais alto de saciedade é o excesso, quando há uma sensação de esgotamento, o mal-estar, enjoo e suor, há uma sensação física de estofado, desconforto e dor no estômago, podendo até ter refluxo.
    Saciado: o ponto que é considerado ideal é quando a gente come e se sente bem, que sente disposição, podendo notar até que consegue comer mais, porém, ao sentir os sinais do corpo a gente percebe que se acabar comendo mais, vai entrar em um estágio como relatei no parágrafo anterior. Durante as nossas refeições é importante estar atento a esse estado de bem-estar durante a refeição para não ultrapassá-lo.

Saco meio cheio ou meio vazio (e o perigo disso)

  • Neutro: estado neutro é aquele ponto em que após consumir uma refeição a gente sente que o estômago está meio vazio, que o seu corpo está longe de se sentir satisfeito, física e psicologicamente.

Vale colocar um alerta que normalmente, mesmo em dieta, não é comum a gente comer e se sentir assim. A comida também tem que gerar prazer e faz parte de um processo que pode envolver se relacionar com pessoas.

Por isso é importante também ter um acompanhamento com uma pessoa que seja especialista em alimentação para caso você esteja comendo e não sinta saciedade ao se alimentar, para evitar comer em excesso ou deixar de comer o necessário.

O que é sentir fome?

  • Fome: após passar horas sem comer você percebe que está com fome, que o seu estômago está roncando, mas, ainda consegue pensar no que fazer para se alimentar de uma maneira consciente, com o seu corpo dando alguns sinais mais leves sobre a necessidade de parar para fazer uma refeição, como um pouco de falta de concentração ou lapsos durante algum compromisso ou não consegui desenvolver bem a tarefa que você está executando no momento.
    Muita fome: por fim o último estágio, de quando você está com muita fome. Os sinais de quando a gente está com muita fome são: fraqueza, tremores, tontura, enjoo e dificuldades de concentração, batendo um sentimento de urgência para comer causando irritação, nervosismo e pode induzir comer um algo o mais fácil e acessível possível, podendo levar você a comer em excesso (como abrir um aplicativo e pedir mais comida do que o necessário).

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Um exercício (Mindful Eating)

Prestar atenção nesses estágios é importante para a gente conseguir manter uma alimentação saudável e se sentir bem com nós mesmos. Então convido você a fazer um pequeno exercício de Mindfulness. Pegue o seu recipiente de água (copo ou garrafinha) e tome um pouco, porém, ao invés de engolir a água, sinta ela pela sua boca e note as sensações que ela causa. Após uns 3 segundos, engula a água. Quais sensações você percebeu? Já tinha feito esse experimento antes? Repita mais duas vezes, tomando a água, segurando na boca, notando as sensações que essa água causa e depois engolindo.

A maioria das pessoas dizem que nunca fizeram isso e perceberam sensações estranhas, não por ser algo bizarro, mas algo desconhecido. Curiosamente bebemos água todos os dias. E que tal tentarmos fazer isso com a próxima refeição? Quantas vezes você já parou para apreciar as coisas que você come, identificando o saber de cada coisa que você está comendo? Diminuindo a velocidade da comida que você consome, talvez além de notar a saciedade você consiga aproveitar muito mais do que você está comendo. Faça isso e comente para nós sensações que você teve fazendo esse exercício.

Entrar em contato com o que você sente, além da identificação de momentos tristes ou de ansiedade, faz parte do cuidado sobre saúde mental e por isso a psicoterapia vai abordar a pessoa atendida como um todo, pois, a nossa alimentação ou a forma como nos alimentamos podem impactar diretamente nosso estado de humor e em como nos sentimos e pensamos. É importante essa atenção integral para que a promoção de saúde mental seja efetiva em todas as áreas da vida, ao invés de lidar apenas com a diminuição de sintomas e sinais.