Emoções e sentimentos – qual a diferença?

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Podemos não sentir nada?

Eu vou inverter as expectativas e falar que sempre que eu fui explicar sobre emoções e sentimentos e alguém me perguntava se poderiam ser evitados de serem sentidos, percebo que eu sempre errei a resposta. A resposta é sim, você pode não sentir as coisas, portanto que uma parte específica do seu cérebro esteja lesionada. Se você anda sentindo algo parecido com emoções e sentimentos, que irei explicar o que é cada um daqui a pouco, significa que o seu cérebro aparentemente está minimamente saudável.

Pensando agora que não há nenhuma questão com seu cérebro, sentir ou não sentir emoções não é uma opção. Você não escolhe se vai ou não vai, não escolhe a intensidade em que elas vão aparecer, pode não conseguir controlar os sentimentos e pode retroalimentar emoções e sentimentos para que durem longos períodos.

Agora que eu tirei a parte principal da frente, que muitas pessoas que chegam à psicoterapia perguntam se em algum momento vão parar de sentir coisas, podemos começar a explicar o que são emoções e sentimentos.

O que são emoções e sentimentos e quais são as suas funções?

Emoções são percepções que temos sobre algum estímulo expressado e percebido pelo nosso corpo. Sentimentos são a interpretação dessa emoção e expressa de maneira externa. Viu como é simples? Levei apenas 25 palavras para explicar para você o que são emoções e sentimentos. Basicamente a emoção vem de fora para dentro, algo que a gente capta pelos nossos sentidos e reage ao que a gente vê e sente, enquanto o sentimento é a interpretação que a gente faz dessa emoção, o significado que a gente dá para essa emoção e como a gente expressa através do repertório que a gente tem, podendo ser em palavras, gestos e ações que tem o foco de expressar a forma como a gente se sente. Então por que elas parecem ser tão complicadas? Por que fazemos horas de cursos e estudamos vários livros para trabalhá-las em psicoterapia? Isso pode até parecer simples, o problema é a gamificação que isso pode tomar no nosso dia a dia, pois, emoções e sentimentos acontecem a todo momento e quase ao mesmo tempo, a todo momento a gente recebe estímulo e expressa algo e isso precisa ser constante, fazendo parte do nosso viver no mundo.

Quando sentimos algo ou passamos por alguma situação que gera um tipo de emoção o nosso corpo inteiro é ativado. Por exemplo, se eu sentir medo de uma situação, o meu corpo inteiro vai reagir para responder ao estímulo de medo, como redirecionar o fluxo de sangue para determinadas musculaturas, ou se eu sinto ansiedade, meu coração vai acelerar e vou reagir com hipervigilância. A definição de 25 palavras que eu coloquei ali em cima é uma definição aceitável, porém, emoções e sentimentos não são simples de identificar e lidar. Isso também nos conduz a uma questão de quando os nossos sentimentos e emoções estão sendo expressos aparentemente fora de contexto, como ficar extremamente ansioso dentro de uma praça de alimentação, que faz algum sentido ter mais atenção para não esbarrar ninguém, não fazendo sentido uma ativação emocional de hipervigilância que ultrapasse um limite que a gente pode considerar aceitável, como sentir que o peito vai explodir e ficar paralisado em algum local sentido dores no corpo.

Como eu coloquei no primeiro tópico, a gente sente as coisas e não temos a opção de não sentir, Isso não significa que a gente não possa aprender a lidar com o que a gente sente, por isso a psicoterapia acaba sendo importante no processo de entrar em contato com o que sente e evitar processos de psicoterapia que promovam a invalidação, ruminação e/ou distorções das emoções e dos sentimentos, pois, quanto mais a gente tenta evitar o que sente mais presente o que a gente sente fica. É muito parecido com aquele exemplo do “não pense no elefante azul”, qual a diferença de que emoções e sentimentos causam reações no nosso corpo e isso normalmente está dentro de um contexto. É como uma pessoa não querer sentir raiva de uma situação e tentar ficar negando que está com raiva ou tenta seguir a vida como se nada tivesse acontecido, o que você já deve ter visto em um exemplo anedótico que a pessoa vai negando que está com raiva e essa raiva, em algum momento, pode acabar sendo expressa de maneiras alternativas ou exagerada.

Não vou aqui discutir nesse texto teorias específicas sobre emoções e sentimentos, até porque, apenas de memória, eu tenho na minha biblioteca física e virtual aproximadamente seis livros falando apenas sobre ansiedade, com cada livro tendo no mínimo 180 páginas, tirando livros sobre diagnóstico e outros que falam sobre ansiedade de maneira concomitante. O mais importante para você entender nesse primeiro momento é que não podemos escolher não sentir, mas, podemos lidar com o que sentimos.

Em breve vou começar uma série falando sobre coisas que a gente sente, algumas emoções e o que elas significam. Já para introduzir vocês a essa série de textos, vamos a uma explicação básica do porquê sentimos algo. Basicamente sentimos algo para a gente sobreviver ao mundo e lidar com ele. Caso a gente não sinta determinadas coisas a nossa vida pode entrar em risco, como pessoas que morrem por não avaliarem locais perigosos, pessoas que morrem intoxicadas por não ponderar determinadas comidas, pessoas que não produzem determinadas reações conforme o contexto em que elas estão inseridas ou acabam se isolando por não expressarem adequadamente comportamentos desejáveis para determinados grupos sociais.

Então, sentir emoções e sentimentos acaba sendo importante para nos manter conectado com as coisas que estão acontecendo à nossa volta e são um sinal de alerta de que alguma coisa está acontecendo. Às vezes cometemos o equívoco de julgar as emoções como boas ou ruins, que é um equívoco porque elas não estão lá para causar bem ou mal para a gente, elas simplesmente existem.

Vale destacar que nesse momento eu não estou fazendo conexões com sinais e sintomas de transtornos psicológicos ou qualquer outro quadro de doença física. Estou trazendo emoções e sentimentos em um contexto generalizado e não diagnóstico.

Foto de Jakayla Toney na Unsplash
Foto de Jakayla Toney na Unsplash

Como lidamos com emoções e sentimentos na psicoterapia

Eu falei algo sobre lidar com o que a gente sente, tendo algumas saídas para lidar com as emoções trabalhando com regulação emocional, por exemplo, ou lidar com os sentimentos trabalhando reestruturação cognitiva, como um outro exemplo.

Quando a gente tenta evitar o que sente, isso que a gente está sentindo torna-se maior, com normalmente a gente buscando alívio imediato e a coisa que a gente tenta evitar de sentir volta mais forte, o que vai gerar um ciclo de tentar um alívio imediato e esse alívio vai precisando ficar cada vez mais intenso. Você pode pensar em uma situação simples do dia a dia, como não querer sentir cansaço e usar de meios para evitar a fadiga, não querer sentir ansiedade e buscar meios para alívio imediato ou não querer sentir uma emoção que julgamos negativa e evitamos fazer determinada tarefa.

Como já citado neste texto, emoções e sentimentos possuem a sua função de experienciar o mundo à nossa volta, então evitar lidar com emoções e sentimentos não vai mudar a realidade em que a gente está inserido. Em psicoterapia trabalhamos para nos aproximarmos do que estamos sentindo e lidar com a situação que está acontecendo, isso não significa garantia de resolver e muito menos de que vai parar de sentir o que está sentindo.

Lidar com o que sente é trabalhoso e incômodo ou a curto prazo, entretanto, pode trazer alívio e bem-estar a longo prazo. Nomear o que está sentindo vai ajudar a encarar as situações do dia a dia e nos fazer se aproximar de uma vida que vale a pena ser vivida. Emoções e sentimentos são sinais de que de alguma forma a gente está saudável e está experienciando o mundo, por isso não pode ser ignorado e quando isso gera sofrimento, devemos procurar ajuda profissional para lidar com o que estamos sentindo.