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Uma atenção diferenciada

No nosso cotidiano lidamos com pessoas íntimas que muitas vezes são teimosas para procurar um serviço de saúde e normalmente quem mais resiste são os homens.

Os homens (e aqui vou me limitar a falar do homem cis gênero de maneira genérica, mas, dedicaremos textos para a população transgenero em um futuro próximo) são quem menos procura serviços de saúde para tratamento médico, por uma construção e uma sociedade machista que impõe que o homem não entre em contato com o que sente e passe por cima de qualquer sofrimento.

Isso não significa que o número de doenças, principalmente transtornos mentais, não estejam presentes entre os homens. Normalmente sintomas são mascarados ou identificados como uma característica de força e masculinidade, o que coloca a vida desse homem que está precisando de cuidados em risco.

Foto de Nik Shuliahin na Unsplash
Foto de Nik Shuliahin na Unsplash

Transtornos Mentais Comuns e estigmas

Quando uma pessoa chega ao serviço de atenção básica é levantado através de uma entrevista estruturada ou semidirigida algumas características. Essa entrevista foca em encontrar transtornos mentais comuns, como depressão ou ansiedade.
Quando o homem chega no serviço de saúde ele pode ficar ansioso em passar na triagem por considerar demorado ou ficar irritado com uma série de perguntas que fazem ele entrar em contato com o que está sentindo. Provavelmente na vida dele ninguém o ensinou a entrar em contato com o que sente e a comunicar de uma maneira organizada o sofrimento que está passando.

Uma parcela dos homens faz tratamento escondido para lidar com questões relacionadas à sua masculinidade e pressão social.
Então, falar que está depressivo pode ser transmitido como um sinal de fraqueza entre as pessoas que costumeiramente fazem parte da sua vida, ou falar sobre ansiedade pode ser tratado como frescura, fazendo esse homem recorrer a meios alternativos de lidar com o sofrimento, o que só vai lhe causar mais sofrimento.

Manejo em psicoterapia no tratamento de homens

Não é incomum a pessoa chegar ao consultório para fazer uma sessão de psicoterapia após ser pressionada por pessoas do seu convívio, muitas vezes sendo levadas por elas até o consultório ou no caso de atendimento online sendo lembradas e colocadas na frente do computador.

Lidar com tratamento de saúde do homem também requer saber prepará-lo para lidar com as suas crenças e possíveis valores, lidar com a flexibilidade em seus pensamentos e lidar com o ambiente em que vive.
Não é incomum homens que ocultam informações que são relevantes para o tratamento por sentirem vergonha do conteúdo, por simplesmente não saberem o que falar ou achar que a informação não é relevante e não precisa expor determinado conteúdo íntimo.

Por isso a importância de garantir a segurança da privacidade, do não julgamento dos conteúdos falados e o compromisso de participação no processo terapêutico que são essenciais para que um homem inicie o processo em psicoterapia.

Negligência dos cuidados da saúde do homem

Muitos movimentos são focados para mulheres e crianças, deixando a população de homens e idosos com datas específicas para focos em seus cuidados. Pensando na população, o homem é quem menos procura os serviços de saúde e essa atenção deveria ser maior. Há um grande risco de desenvolvimento de transtornos mentais graves ou que impactam a vida de várias pessoas que estão à volta deste homem.

Existem alguns movimentos criativos, como o Conversa de Boteco, que é uma equipe de saúde da atenção básica em Paraisópolis que fazem o movimento de ir aos bares da região e conversar com os homens que frequentam esses bares, falando sobre saúde onde eles vão com mais frequência e aos poucos convencendo esses homens a frequentarem a unidade básica de saúde.

Pensando em oferta em psicoterapia nos deparamos com o desafio, oferecer um ambiente que seja atrativo para esses homens. Por isso, não só para tratamento de homens, eu insisto em falar em objetivos em psicoterapia para dar uma previsibilidade para quem está no processo e cito tanto a prática baseada em evidência para respeitar as preferências e vontades da pessoa que está sendo atendida.

Considerações importantes com a temática

A desconstrução dessa masculinidade tóxica, o entrar em contato com emoções como medo, ansiedade e tristeza e lidar com sentimentos que esses homens têm e que normalmente não costumam ou sabem entrar em contato é um trabalho de longo prazo e textos assim ajudam a diminuir o estigma e dar uma atenção ao público que também está em sofrimento, o que me faz sempre cair no viés de profissional de saúde, acreditando que toda a vida deve ser cuidada não importa o trabalho que isso cause.

Talvez você que esteja lendo esse texto não seja alguém da área da saúde e não precise conviver com esse viés, mas é importante oferecer ajuda quando é pedido e, ofertar, mas não necessariamente fazer pelo outro. indique locais de cuidados que esse homem pode receber quando estiver em sofrimento.