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Entendendo melhor sobre o funcionamento do burnout

Vamos começar pelo básico:

Burnout é uma condição ocupacional causada por exposição crônica ao estresse. Isso quer dizer que ela ocorre com uma pessoa que é submetida a estresse ao longo do tempo. Continuamente. Repetidamente. Consistentemente. Não existe burnout de uma semana muito puxada no trabalho.

Foto de Robert Bye na Unsplash
Foto de Robert Bye na Unsplash

Burnout classicamente tem 3 características:

Exaustão emocional

Despersonalização

Realização profissional

Vou explicar cada uma delas:

      1.Exaustão emocional

Note que não é só exaustão, e sim exaustão EMOCIONAL. A pessoa é minada diariamente aos poucos até chegar num ponto de colapso emocional.

Acontece assim: começa com um pedido de 15 minutos a mais no trabalho. Depois vira 1 hora. 2 horas. Um fim de semana. Um email às 22h. Uma ligação meia noite. Uma chamada de atenção por erro bobo. Um assédio na frente dos colegas. Um grito porque você não bateu a meta. E por aí vai…
E exaustão emocional não acontece de um dia pro outro. Ela vai crescendo lentamente. De pouquinho.

As pessoas gostam de usar a analogia com o sapo na panela. Que não pula porque a água esquenta devagar. É Fake News, o sapo pula sim, por reflexo. Por isso, tampamos a panela. E pessoas também tentam pular dessa panela de estresse, só que sempre que tentam são agressivamente punidas por isso.

Essa exaustão emocional aparece como uma lentificação, dificuldade de pensar, vontade de chorar, irritação. Essa pessoa está no limite!
Sabe o que é excelente para regulação emocional? SONO!

E não por menos é uma das primeiras coisas prejudicadas no burnout. Porque a pessoa está preocupada com o próprio trabalho o tempo todo.

      2.Realização Profissional

A pessoa está cansada, lenta, irritada, preocupada e se percebe como improdutiva e ineficiente no trabalho.

Dormindo mal, comendo mal e sem descanso, quem não estaria? Certo? A pessoa está estressada.

Ela não consegue pensar direito e a primeira conclusão é trabalhar mais.

      3. A Despersonalização:

A pessoa se sente desconectada do próprio trabalho, dos colegas de trabalho e dos sentimentos deles também. E se torna alguém cínico e irritado. Se sente isolado, sozinho e excluído.

Você já deve ter ouvido falar que humanos são uma espécie social, né?

Pois é. Quer torturar alguém no trabalho? Isole ele. Ria dele. Fale mal do trabalho dele. Não chame ele pro almoço. Não chame pra festa. E assim o estresse crônico ganha uma nova faceta.

Para revisar. A pessoa com burnout está:

  • Dormindo mal;
  • Comendo mal;
  • Sem lazer;
  • Sem socialização;
  • Se sentindo improdutiva;
  • Irritada.

E isso tudo acontece bem lentamente.

Basicamente tudo que define um humano foi tirado dessa pessoa pelo trabalho. E um dia ela colapsa.

Note como a exaustão emocional, a despersonalização, e a falta de realização profissional se retroalimentam.

A pessoa começa a acreditar que a vida dela é só isso e mais nada.

Agora imagine que você investiu meses ou até anos da sua vida nesse ambiente de trabalho acreditando no final feliz. Você se tornou insensível para sua própria frustração e pedidos de socorro. Ignora os choros de manhã e continua indo pro trabalho. Então seu corpo finalmente decide por você que é melhor desmaiar do que continuar na panela fervendo. E vai parar num Pronto Socorro. A pessoa sai e volta pro trabalho porque não existe mais nada.

Os amigos se perderam. O relacionamento acabou. Os familiares não veem há meses. Só existe o trabalho. Só existe o trabalho cronicamente estressante.

Uma saída mais simples:

Descansar é o caminho. Mas essa saída entra em conflito com a ideia construída ao longo do tempo de que tem que estar trabalhando o tempo todo.

A pessoa num quadro já moderado de burnout luta contra isso. Descansar não é uma opção. Porém, essa pessoa claramente não está na melhor posição de tomar decisões sobre a própria saúde e ela não percebe isso direito pelo cansaço.

Ela está vivendo no piloto automático num nível que ela nem consegue julgar nada direito. E é por isso que um acolhimento bem feito e uma psicoeducação desenhada nos mínimos detalhes é importante.

Essa pessoa precisa entender o que está acontecendo com pouquíssimo recurso cognitivo disponível. Sem isso ela não adere ao descanso. Ela larga a terapia para trabalhar mais.

Se você se identifica ou conhece alguém que está passando por isso e ainda não está em terapia, esse é o momento para dar o primeiro passo.