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Aviso importante e alerta de gatilho

Destaco inicialmente que esse texto pode conter conteúdo sensível, caso você tenha alguma questão relacionada ao tema, como pensamentos sobre suicídio ou alguém conhecido que falou sobre suicídio, procure o serviço de saúde mais próximo, como pronto-socorro, procurar o seu profissional de saúde mental caso você tenha ou ligar no número 188 que pertence ao centro de valorização da vida (CVV) para ter ajuda necessária para lidar com o assunto.

Falar sobre suicídio aumenta a chance de suicídio?

Esse é um mito muito comum que se mistura com outras afirmativas importantes. Perguntar para alguém de maneira direta quando está preocupado se ela pode ou não tirar a própria vida, não vai fazer essa pessoa ter ideias de tirar a própria vida. Isso pode ser uma porta de entrada para oferecer ajuda adequada se for necessário.

A confusão acontece quando abordam o tema do suicídio e fazem de maneiras inadequadas nas redes sociais ou em seriados para a TV. Não significa que abordar o tema suicídio em obras da cultura pop é problemático e, sim abordar o tema de maneira equivocada o que pode levar a consequências indesejadas e nocivas, como a romantização do suicídio ou tratar com justificativas distorcidas o ato de cometer suicídio.

Então falar sobre suicídio não aumenta a chance de alguém se suicidar, porém, o tema comumente é tratado como um tabu e muitas pessoas sentem algum tipo de vergonha ou medo de fazer a pergunta sobre o estado da pessoa com quem está preocupada, por isso a importância de falar de maneira direta, mostrando preocupação sem retaliação ou pressão pode ser um dos caminhos de ofertar ajuda.

Quais sinais eu devo olhar para saber se uma pessoa pode cometer suicídio?

Tem um vídeo muito emblemático de um time do campeonato inglês que atualmente está na segunda divisão falando sobre o tema. Sugiro assistir e voltar para o texto em seguida: https://youtu.be/tX8TgVR33KM?si=0Z6WdtHi4FDZflMg. Caso você não consiga assistir ao vídeo ou optou por continuar o texto, o vídeo mostra que um torcedor alegre e um outro aparentemente menos animado, passaram a temporada inteira assistindo os jogos juntos. O torcedor que cometeu suicídio foi o torcedor mais alegre.

Podemos tirar desse vídeo que não há sinais claros e universais quando o tema é suicídio, mas podemos ter atenção a mudanças de padrão de comportamento, algo que normalmente só será percebido por pessoas mais íntimas. Pegando um exemplo, dificilmente você vai notar alguma coisa em um colega de trabalho com quem você não tem muito contato, pois as mudanças de comportamento podem acontecer por diversas coisas, como término de relacionamento, morte de algum parente próximo ou alguma outra situação na sua vida. Quando somos íntimos de uma pessoa sabemos os contextos que podem estar levando a pessoa a uma mudança de comportamento e avaliar se isso a coloca em risco ou não, como o aumento de consumo de álcool, comportamentos mais impulsivos, perceber se a pessoa está se desfazendo de muitos itens ou de alguma forma está preparando algo como se fosse partir e deixar algo para ser encontrado.

Foto de a Tysona na Unsplash
Foto de a Tysona na Unsplash

Fatores de risco na população

Outro alerta de gatilho! Procure ajuda caso seja necessário.

Quando falamos de gênero, os homens têm maiores taxas de suicídio por terem acesso a mais meios letais, além de realizar maior planejamento para cometer suicídio, o que dificulta a detecção do planejamento, enquanto as mulheres têm maiores taxas de tentativa de suicídio.
Algo pouco comentado é o número de suicídio de pessoas idosas, principalmente homens acima desses 60 anos, e em mulheres com faixa etária entre 40 e 59 anos. O número de suicídio em jovens também deve ser um motivo de atenção, principalmente devido a mudanças culturais, socioeconômicas e perspectiva sobre o mundo e o seu futuro.

Quando falamos de questões sociais, a ideação suicida é maior em pessoas divorciadas, separadas, viúvas ou solteiras. Falando especificamente sobre a viuvez, divórcio ou separação, ela se configura como uma perda intensa que gera sofrimento, além da perda do suporte social que essa pessoa tinha.

Outro fator social relacionado ao suicídio é o desemprego, comum em quem trabalhou durante vários anos em uma única empresa ou a perda de emprego por motivo específico (como aposentadoria forçada por problemas de saúde) que causará um impacto extremo na vida da pessoa, tanto financeiro como social.

Outros fatores de riscos a serem destacados são: histórico de suicídio na família, alcoolismo, conflitos relacionais com pais e/ou avós, presença de conflitos afetivos dentro da relação estabelecida (por exemplo, namoro, ficante, relacionamento aberto ou casamento) e presença de conflitos relacionados à sexualidade.

Há também um aumento de suicídio dentro da população indígena brasileira, comumente na faixa entre 10 e 19 anos de idade, com fatores de risco ainda a serem investigados com mais profundidade. Porém, o alcoolismo frequentemente está associado ao risco de suicídio dentro dessa população.

O atendimento em psicoterapia para lidar com o suicídio

Como em todos os textos, começo sempre destacando o que o atendimento em psicoterapia é um local seguro e sem julgamento, onde todo o conteúdo ficará entre a pessoa terapeuta e quem está procurando o serviço em psicoterapia, entretanto, quando falamos em suicídio a quebra de sigilo será necessária em uma situação específica, quando há um relato claro sobre a intenção de tirar a própria vida e de maneira imediata. É importante lembrar que a pessoa que atua com Psicologia está dentro da área da saúde e é preciso garantir a segurança da pessoa atendida, por isso a quebra de sigilo é necessária quando envolvem determinados riscos.

Mesmo quando necessário quebrar o sigilo para garantir a segurança da pessoa, apenas informações essenciais são passadas para o serviço de saúde que for prestar atendimento imediato e para as pessoas mais próximas que vão ajudar no momento.
Então, caso você precise ou conheça alguém que esteja lidando com pensamentos sobre querer morrer, procure um profissional de saúde em Psicologia ou em outras áreas específicas da Saúde que eles estarão totalmente capacitados para lidar com o tema e oferecer um atendimento com qualidade, garantindo sigilo sobre os temas tratados.

Onde exatamente devo procurar ajuda?

Você pode procurar os seguintes serviços para receber ajuda:

  • Unidade Básica de Saúde (UBS)
  • Pronto Socorro ou Hospital Psiquiátrico
  • Ligar para o SAMU pelo telefone 192
  • Ligar para o Centro de Valorização da Vida pelo telefone 188

O mais importante desse texto é informar de maneira básica como você pode ajudar ou onde procurar ajuda quando necessário, que não precisa tratar o assunto como tabu, que há caminhos para lidar com o sofrimento de maneira adequada e sem colocar em risco a segurança ou privacidade da pessoa, além de não estigmatizar quem já está passando por um sofrimento intenso.